Uma análise recente divulgada pelo portal JoBlo destacou o que seria a melhor cena da clássica adaptação cinematográfica da obra de Stephen King. Na contramão da exaltação, surgiu uma curiosidade reveladora: a atriz principal Kathy Bates não ficou totalmente satisfeita com algumas decisões tomadas durante a produção do filme que lhe rendeu um Oscar.
Conhecido no Brasil como “Louca Obsessão” e em Portugal como “Misery – O Capítulo Final”, o thriller psicológico manteve o mesmo título original do livro nas edições brasileiras, porém incorporando o subtítulo que se tornaria mais popular entre o público nacional. A Editora Suma foi responsável pela publicação da obra no mercado brasileiro, sempre mantendo a essência perturbadora da narrativa original.
Para quem desconhece a trama, o filme acompanha o pesadelo do escritor Paul Sheldon após um acidente na neve. Resgatado por uma enfermeira aposentada e fã obcecada por sua série de livros, ele se vê preso em uma situação cada vez mais aterrorizante quando ela descobre que ele matou sua personagem favorita na última publicação. O que começa como um resgate se transforma numa espiral de controle psicológico e tortura física.
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O contraste entre livro e filme aparece especialmente na famosa cena de mutilação. Na versão original escrita por King, Annie amputa um dos pés do escritor com um machado. William Goldman, roteirista, defendia manter esta brutalidade na adaptação, mas o diretor Rob Reiner insistiu em suavizar a violência, optando apenas pela quebra dos tornozelos. Ironicamente, mesmo com essa redução, a sequência continua sendo uma das mais difíceis de assistir no cinema.
Anos depois, o próprio Goldman admitiu que a decisão de Reiner provavelmente foi acertada. Uma amputação explícita poderia transformar Annie em uma vilã completamente detestável, enquanto o filme buscava um equilíbrio delicado que permitisse ao público compreender, ainda que horrorizado, sua instabilidade mental.
A reação do ator James Caan ao assistir à cena finalizada exemplifica bem o impacto que mesmo a versão suavizada conseguiu provocar. Conta-se que ele teria exclamado algo como “você é completamente insano!” para Reiner após a primeira exibição. A sequência mantém sua capacidade de chocar mesmo décadas depois de sua estreia.
É curioso pensar que tantos astros de primeira linha recusaram interpretar o atormentado Paul Sheldon. Nomes consagrados como Harrison Ford, Dustin Hoffman, Al Pacino e Robert De Niro, entre muitos outros, declinaram do papel que acabou nas mãos de Caan, cujo desempenho como a vítima vulnerabilizada se tornou igualmente memorável.
Já o papel de Annie Wilkes parecia predestinado a Kathy Bates. Goldman, admirador de seu trabalho teatral, escreveu o roteiro pensando especificamente nela. Bette Midler chegou a ser considerada, mas ao recusar a proposta, abriu caminho para a interpretação que se tornaria icônica e premiada com o Oscar. Midler depois reconheceria seu erro, chamando sua decisão de “estúpida” ao ver o reconhecimento obtido por Bates.
Este foi o primeiro protagonismo de Bates no cinema, e sua construção da enfermeira obcecada se destacou pelo equilíbrio perturbador. A habilidade de transitar entre momentos de doçura e explosões de violência psicótica conferiu a Annie Wilkes uma dimensão aterradora justamente por sua imprevisibilidade.
“Louca Obsessão” permanece como a única adaptação de Stephen King premiada com um Oscar. Lançado em novembro de 1990 e filmado parcialmente em Nevada, o filme resistiu ao teste do tempo como uma das transposições mais bem-sucedidas da obra do autor.
King revelou que a inspiração para Misery surgiu de sua própria experiência com leitores insatisfeitos após publicar um livro que fugia do seu estilo habitual de terror. Também há interpretações da personagem Annie como uma metáfora para seu próprio vício em substâncias, que o autor enfrentou por anos.
Mesmo com a violência física sendo amenizada em relação ao livro, o terror psicológico se manteve intacto na tela. O mérito compartilhado entre a direção de Reiner, o roteiro de Goldman e a atuação visceral de Bates fez de “Louca Obsessão” uma peça fundamental na filmografia de terror psicológico, conquistando brasileiros e fãs de cinema do mundo todo com seu retrato perturbador de obsessão e loucura.
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