Uma pequena casa nas montanhas Kozhuh, na Bulgária, tornou-se destino de peregrinação para milhares de pessoas durante décadas. Ali vivia uma mulher cega que, segundo seus seguidores, conseguia enxergar o futuro com uma precisão assombrosa.
Baba Vanga, como ficou conhecida, transformou-se em uma das mais famosas videntes do século XX, atraindo a atenção até mesmo de líderes mundiais com suas profecias apocalípticas.
Vangeliya Pandeva Gushterova nasceu prematuramente em 3 de outubro de 1911, em Strumica, território que hoje pertence à Macedônia do Norte, mas que na época fazia parte do Império Otomano. Sua infância foi marcada por dificuldades: perdeu a mãe aos três anos e seu pai foi recrutado para lutar na Primeira Guerra Mundial, deixando-a sob os cuidados de vizinhos.
O evento que mudaria para sempre sua vida ocorreu quando ela tinha apenas 12 anos. Um violento tornado a arrastou por centenas de metros e a lançou em um campo. Quando a encontraram, seus olhos estavam cobertos de areia e poeira. As complicações resultantes desse acidente a deixaram completamente cega.
Foi após essa tragédia que Baba Vanga começou a manifestar habilidades incomuns. Ainda adolescente, surpreendeu moradores locais com pequenas previsões sobre acontecimentos do cotidiano. À medida que envelhecia, seus supostos poderes paranormais se intensificaram, e sua fama ultrapassou fronteiras.
Em 1942, Vanga casou-se com o soldado búlgaro Dimitar Gushterov e mudou-se para Petrich, na Bulgária, onde viveu até o fim de sua vida. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua casa se tornou ponto de encontro para pessoas desesperadas que buscavam informações sobre familiares desaparecidos nos campos de batalha.
Após a guerra, mesmo com a inicial repressão do regime comunista búlgaro, sua reputação cresceu exponencialmente. O próprio governo búlgaro, interessado em estudar suas capacidades, acabou por empregá-la oficialmente. Em 1967, Baba Vanga tornou-se funcionária do Instituto de Sugestologia e Parapsicologia – a primeira vidente oficialmente contratada como servidora pública no mundo.
Figuras poderosas como o líder soviético Leonid Brezhnev e o czar búlgaro Boris III supostamente a consultaram. Mesmo sem educação formal – ela apenas aprendeu Braille em um instituto para cegos – Vanga demonstrava uma compreensão surpreendente de assuntos complexos e uma capacidade de conexão com as pessoas que a procuravam.
Baba Vanga faleceu em 11 de agosto de 1996, aos 85 anos, vítima de câncer de mama. Curiosamente, ela teria previsto a data exata de sua própria morte um mês antes. Defensores de Baba Vanga afirmam que cerca de 80% de suas previsões se tornaram realidade, incluindo:
Várias previsões atribuídas a Baba Vanga não se tornaram realidade:
Entre as profecias mais comentadas para os próximos anos estão:
Um aspecto que complica a verificação das profecias de Baba Vanga é que ela não deixou registros escritos de suas previsões – era analfabeta e cega. O que conhecemos hoje são relatos de terceiros e interpretações feitas após os eventos ocorrerem, o que levanta questões sobre sua autenticidade.
“Vanga não usava datas em suas próprias profecias. A vidente listava eventos sequencialmente e usava formulações vagas”, explica um pesquisador especializado no fenômeno. “Vincular as palavras de Vanga a anos e eventos específicos é uma interpretação posterior ou, em alguns casos, pura falsificação.”
Céticos argumentam que muitas das profecias atribuídas a ela são intencionalmente amplas e sujeitas a múltiplas interpretações. Também há indícios de que vários livros de sonhos e horóscopo circulando com seu nome são fraudulentos, já que ela, como cristã ortodoxa, não acreditava em horóscopo oriental.
Apesar das controvérsias, seu legado permanece vivo. Sua casa em Petrich foi transformada em museu em 2008, e sua residência em Rupite também foi aberta a visitantes em 2014. Documentários, livros e até uma série de TV sobre sua vida foram produzidos, mantendo vivo o interesse por esta enigmática figura búlgara.
Em tempos de incerteza global, as profecias de Baba Vanga continuam a exercer fascínio, seja como expressão de sabedoria profunda ou como um fenômeno cultural que reflete nossos medos e esperanças coletivos sobre o futuro.