Crenças mágicas variam drasticamente entre países, sendo mais fortes em nações com instituições frágeis e menor confiança social
Você acredita em mau-olhado ou que algumas pessoas têm o poder de lançar maldições? Se sim, você não está sozinho. Uma pesquisa global revela que aproximadamente 40% da população mundial — o equivalente a pelo menos 1 bilhão de pessoas — acredita que alguns indivíduos possuem habilidades sobrenaturais, em poderes sobrenaturais, capazes de causar danos a outros.
O estudo, publicado na revista científica PLOS One em 23 de novembro de 2022, apresenta um panorama surpreendente sobre como essas crenças se distribuem de maneira desigual pelo planeta. Enquanto na Suécia apenas 9% da população acredita em bruxaria, na Tunísia esse número ultrapassa impressionantes 90%.
A pesquisa, que analisou dados coletados pelo Centro de Pesquisas Pew entre 2008 e 2017, entrevistou mais de 140 mil pessoas em 95 países através de cinco continentes. Os resultados revelam padrões interessantes: mulheres, moradores de áreas urbanas e pessoas mais jovens demonstraram maior tendência a acreditar em poderes mágicos.
O estudo revela um dado fascinante: essas crenças atravessam diferentes níveis educacionais e socioeconômicos. Mesmo pessoas com situação econômica classificada como “muito boa” têm apenas 6% a 7% menos probabilidade de acreditar em bruxaria do que aquelas em condição econômica “muito ruim”.
O estudo também identificou que pessoas religiosas tendem a apresentar maior inclinação a acreditar que alguns humanos possuem poderes mágicos — algo que não surpreende, considerando que o conceito de maldições está presente na maioria das grandes religiões mundiais, incluindo cristianismo, judaísmo, islamismo e hinduísmo.
Um dado particularmente relevante é a correlação entre contextos sociais específicos e a crença em bruxaria. A pesquisa demonstrou que em países com instituições fracas, baixos níveis de confiança social, maior ênfase na conformidade e maior viés favorável a pessoas do próprio grupo, a crença em poderes sobrenaturais tende a ser mais forte.
Esse padrão dialoga com trabalhos antropológicos anteriores realizados entre os povos indígenas norte-americanos da Nação Navajo (também conhecidos como Diné). De acordo com o estudo, pesquisas anteriores sugerem que, entre os Navajos, a crença em bruxaria funciona como uma ferramenta de controle social que ajuda a manter a ordem em uma sociedade quando estruturas formais de governança são ausentes ou frágeis.
A pesquisa apresenta uma limitação importante: não incluiu dados da Índia ou da China, países que juntos abrigam aproximadamente 2,8 bilhões de pessoas — mais de um terço da população mundial.
Mesmo com essa limitação, os resultados mostram como a crença na bruxaria parece ser tão antiga quanto a própria humanidade. As mais antigas expressões artísticas em cavernas da Inglaterra, por exemplo, podem ser “marcas de bruxas” gravadas para afastar espíritos malignos. Já a mais antiga inscrição escrita do nome de Deus em hebraico foi encontrada em uma “tábua de maldição” de 3.200 anos, destinada a amaldiçoar alguém que quebrou um juramento.
Esse fenômeno cultural transcende fronteiras e épocas, adaptando-se a diferentes contextos sociais ao longo dos milênios, como demonstram os dados da pesquisa.