Você provavelmente conhece alguém que jura de pés juntos ter visto um fantasma. Talvez até você mesmo acredite já ter presenciado algum fenômeno sobrenatural. Mas se a ciência não encontrou evidências da existência de espíritos, o que estaria por trás desses relatos que atravessam gerações e culturas em todo o mundo?
Essa foi a pergunta que motivou Christopher French, professor emérito de psicologia da Goldsmiths, Universidade de Londres, a explorar o tema em seu recente livro sobre a ciência do paranormal. Para o especialista, a maioria dos casos de encontros com fantasmas pode ser explicada de maneira muito mais simples do que imaginamos.
“Só porque você não consegue pensar em uma explicação natural, não significa que ela não exista”, explica French em entrevista ao portal Live Science. “Geralmente estamos diante de interpretações sinceras, porém equivocadas, de fenômenos que têm explicações perfeitamente naturais.”
O pesquisador britânico, que se define como cético, investiga explicações não sobrenaturais para supostos encontros com fantasmas. Entre os mecanismos que podem nos levar a acreditar que vimos algo paranormal estão:
“O cérebro humano tem suas limitações. Ele frequentemente perde detalhes importantes e distorce lembranças”, comenta um neurocientista brasileiro que pesquisa fenômenos semelhantes. “E quando estamos diante de experiências ambíguas, nossa mente tende a preencher as lacunas com base em nossas crenças prévias. Se você acredita em fantasmas, seu cérebro vai naturalmente tender a essa explicação.”
Esse processo é ainda mais acentuado quando a pessoa já tem uma predisposição para acreditar que encontrou um fantasma ou outra criatura lendária.
Entre as condições médicas que podem desencadear a sensação de encontros sobrenaturais, French destaca a paralisia do sono. Nesse distúrbio, a pessoa tem a impressão de estar completamente acordada, mas não consegue se mover, frequentemente enquanto sente uma presença maligna por perto.
“É como se sua mente acordasse, mas seu corpo continuasse adormecido”, descreve o pesquisador ao Live Science. “Você experimenta uma mistura interessante de consciência normal de vigília com consciência onírica, e os conteúdos do sonho invadem o estado de vigília. Os resultados podem ser absolutamente aterrorizantes.”
French observa que, se alguém passa por uma paralisia do sono sem ter conhecimento prévio sobre esse distúrbio, é compreensível que a pessoa acredite ter vivenciado algo sobrenatural. Curiosamente, mesmo durante a paralisia do sono, quando estamos à mercê de nossos sonhos, a presença que as pessoas relatam frequentemente segue um padrão: uma figura sombria no canto do quarto.
Ao contrário do que os filmes de terror nos fazem crer, aparições de figuras translúcidas em forma humana representam apenas uma pequena minoria dos relatos paranormais. Segundo Johannes Dillinger, professor de história moderna na Oxford Brookes University, no Reino Unido, a manifestação mais comumente relatada ao longo dos séculos é o poltergeist — um tipo de assombração invisível.
“Muitos, muitos fantasmas ao longo dos séculos eram meros poltergeists, o que significa que permaneciam invisíveis o tempo todo”, explica Dillinger ao Live Science. “Só pensamos que eles estão lá porque ouvimos ruídos estranhos, geralmente à noite, que são difíceis de explicar.”
Em sua pesquisa sobre como a percepção dos fantasmas mudou ao longo do tempo na sociedade ocidental, Dillinger descobriu que antes de 1800, as pessoas acreditavam que os fantasmas tinham assuntos inacabados importantes — mas em um sentido muito mais literal do que imaginamos hoje.
“Normalmente, os fantasmas queriam que as pessoas encontrassem seus tesouros e os utilizassem para algum bom propósito”, conta o historiador.
Essa visão mudou significativamente desde então. O século XIX marcou o surgimento do espiritualismo e a crença de que os humanos poderiam se comunicar com fantasmas e espíritos. Dillinger observa que a relação se inverteu: em vez de fantasmas exigindo coisas dos vivos, agora eram os vivos que esperavam ser consolados ou confortados pelos mortos.
No entanto, através de todas essas transformações culturais, os fantasmas permaneceram, acima de tudo, como uma explicação que as pessoas prontamente aceitam para ruídos estranhos na escuridão.
“O fantasma é realmente aquela coisa que faz barulho durante a noite”, resume Dillinger.
Afinal, por que continuamos a acreditar em fantasmas mesmo sem evidências científicas? Talvez porque nosso cérebro prefira uma história assustadora, mas significativa, a admitir que simplesmente não sabemos explicar algo. Ou talvez porque a ideia de que nossos entes queridos continuam de alguma forma por perto seja mais reconfortante que a finitude da vida.
Seja qual for a explicação, uma coisa é certa: enquanto houver ruídos inexplicáveis na escuridão da noite, continuaremos contando histórias sobre aqueles que supostamente voltaram do além.